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Beto Lima

nascido em 20 de março de 1963,

partiu em 25 de janeiro de 2003.

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Beto Lima, uma estrela da arte
sul-mato-grossense

por HUMBERTO ESPINDOLA

Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA

Beto Lima teve uma grande passagem pela arte sul-mato-grossense. Estes comentários que teceremos agora, são in memorian, infelizmente, pois ele faleceu muito cedo, com apenas 39 anos. Nos anos de 1990 ele foi um grande cometa, uma estrela que transitou pela arte em nossa cidade. Ninguém superou, em minha análise, nesses dez anos que precederam o final do século, a plástica original e personalística de Beto Lima. Ele brilhou muito com seus gatos, seus castiçais, seus temas exóticos, seus rostos, seu colorido absurdo, sua capacidade de pintar, de pincelar, de passar a espátula, numa gestualidade forte, violenta, instigando o espectador a se identificar com sua personalidade conquistadora, de quem quer um lugar ao sol, um espaço em nossa história da arte. Ele conseguiu isso. Certamente conseguiria mais se a morte não se lhe tivesse levado embora. Mas deixou uma grande e rica produção nesses dez anos de sua carreira criativa, conturbada, mas muito bem estabelecida. Tinha estilo, aquela qualidade que você só de olhar reconhece e pergunta só para confirmar:

- É Beto Lima?!


Beto Lima era desapegado de bens materiais, e teve que lutar para viver da pintura. Mas sempre no caminho da busca artística e da cultura. Teve muitos amigos e todos nós sempre o vimos como uma pessoa do mundo, nunca foi provinciano. Soube vencer as barreiras do mercado sempre pintando, inclusive camisas e camisetas, ensaios de pintura que quem as tem não se desfaz jamais. Na verdade, qualquer pano velho ele podia transformar em suporte e produzia obras tecnicamente consolidadas, pela variedade de materiais usados. Tinta automotiva, tinta látex, gesso, areia, massas, toda matéria passível de se tornar textura em sua plástica gritante. Produziu muito, por necessidade financeira e espiritual, conseguiu conectar esse paradoxo, sem contradizer-se. Foi, portanto, um dos pioneiros da wearable art em nosso meio.


Numa ocasião a critica de arte Maria Adélia Menegazzo comentou:

“A simplicidade dos motivos contrapõe-se à singularidade com que os compõe, tornando cada quadro único em seus múltiplos”.

O artista consegue assim, obter o mínimo no máximo, e o máximo com o mínimo, como também observou certa vez na imprensa o escritor e poeta Dante Filho analisando seu trabalho: ”... é o pintor que transita pela realidade aparente e vai transformando as coisas que passam a sua frente como se fosse um observador indiferente, quase anônimo, fazendo do óbvio a matéria de sua singularidade.”


Nos anos de 1990, as artes plásticas em Mato Grosso do Sul estavam em um período de calmaria, as sementes dos anos 1980, logo após a criação do novo Estado, ainda não tinham germinado em temas independentes da busca da identidade geográfica... Essa “calmaria” não excluiu talentos, é claro, mas Beto Lima sobressaiu-se certamente por ter um espírito muito contemporâneo e uma experiência intima metropolitana. Seus gatos, muitas vezes arrepiados, bicicletas que parecem cinéticas, flores que iluminam cenários lúgubres, cantoras, rostos diversos, sempre no clima do mistério... Sabia trabalhar a cor como raros, seus azuis magníficos, seus climas de “boleros”, climas de velas acesas, candelabros, vocação cinematográfica e performática perpassando em roxos e lilases. Seus vermelhos sensuais, davam a suas obras um triller de suspense, uma cenografia quase ao limite do sobrenatural. Teria sido um grande cenógrafo se lhe afirmasse essa oportunidade, pois fez uma boa arte performática também... Nesse espírito, adentrava sua pintura de inspiração impressionista, o fator expressionista fazendo a diferença no resultado. Profundidade, mistério, fantasia, qualidades que lhe foram intrínsecas.  


Por essas e outras razões, Beto Lima se tornou um artista e amigo inesquecível. Mato Grosso do Sul ama o seu trabalho. O artista não teve um colecionador que tivesse dezenas de seu trabalho. Eles estão esparramados pela cidade, pelo país, pelo mundo, pelos lugares onde esteve. Quem tem obras suas não costuma se desfazer delas com facilidade. São peças de estimação, tem história individual, são boas de convívio diário, sempre a pintura na frente. Você repara a arte antes de reparar o tema,  e ao revisá-las continuam belas, diferentes e impactantes.

Ele conseguiu fugir da data, suas obras serão contemporâneas em qualquer tempo.


 

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